23.11.07

Depois do virús FIFA, o virús "Nobél"

 

 

Günter Grass, um merecido laureado, considerou ontem numa entrevista, segundo o jornal espanhol ADN (www.adn.es), que uma união política ibérica fortaleceria a posição dos dois países no contexto da União Europeia, e lhes daria um maior peso político.

Não sei bem em que contexto foram proferidas essas afirmações, nem sequer se as proferiu, mas fazendo fé neste periódico espanhol de distribuição gratuita, a declaração, igualmente gratuita, do escritor revela, antes de mais, um profundo desconhecimento da história e cultura dos dois países. Apesar da boa relação actual entre ambos, as desconfianças mútuas, ainda que em estado latente, persistem. Provérbios como "de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento." ainda são lugares comuns em Portugal, usados à mínima oportunidade. A mania da superioridade dos espanhóis em relação aos portugueses também não está suficientemente recalcada por cá para que não se note.

Portugal tem uma identidade própria vincada por anos de sangue derramado nas fronteiras mais estáveis da Europa. Temos uma lingua mais diferente do que parece, e não estou a ver, nem os portugueses a adoptarem o castellano, que é, para todos os efeitos (e independentemente da grande quantidade de excelentes escritores que essa lingua nos brindou) uma lingua menos burilada que o português. Os espanhóis também não vão adoptar o português pois, além de eles serem muito mais, são absolutamente incapazes de aprender seja que língua fôr.

Portugal não é a Taiwan da grande Ibéria, nem sequer faz parte do "espaço vital" de Madrid. Compreende-se que (e aí vem a piadinha de mau gosto), sendo alemão, esteja habituado reunificações, e sendo ex-apoiante de Hitler, tenha a mania de falar no tal espaço vital. Mas colocar-se no mesmo saco que o Mário Lino, que é um pobre coitado, ou do José Saramago, a quem a idade já pesa mais do que devia, só é explicável por uma absoluta ignorância do assunto em questão. E quando assim é, Günter Grass já tem mais do que idade para saber que é melhor ficar calado que dizer asneiras. Estabilidade e identidade próprias tem Portugal para dar e vender à Alemanha e ao sr. Günter Grass.

Já os espanhóis, volta não volta, pelam-se por põr uma noticiazinha destas nos jornais. Devem achar que ainda não têem problemas suficientes só com o País Basco e a Catalunha...

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